segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

A Linguagem de Deus | Resenha


A existência de um universo como o conhecemos
repousa sobre o fio da navalha das improbabilidades” (p. 80)

Escrito por um dos mais renomados cientistas da atualidade, Francis S. Collins, autor também de "A Linguagem da Vida". Médico, PhD em Físico-Química e um geneticista brilhante. Além de ter descoberto a localização de genes responsáveis por três doenças importantes(fibrose cística, distrofia muscular de Duchenne e doença de Huntington) foi também diretor do Projeto Genoma Humano(concluído em 2003). Atualmente é diretor do National Institutes of Health(NIH), nomeado pelo presidente Barack Obama, que também juntos, anunciaram em 2013 o projeto “Iniciativa BRAIN” que irá mapear o cérebro humano. Sobre Francis Collins, o Astrofísico Neil deGrasse Tyson comentou: 

Um religioso pode aceitar as descobertas e passar a usar passagens de suas escrituras, a exemplo da Bíblia, como metáfora, fonte de inspiração. Ou entrar em conflito conosco. Há muitos, contudo, que souberam separar os tópicos, ver a religião como motivação moral, e a ciência como a forma de realmente explicar a natureza. Exemplo contemporâneo é o geneticista Francis Collins, cristão e um dos intelectuais mais respeitados da atualidade. Ele tira sua base moral da Bíblia, mas jamais responderá a uma pergunta sobre a origem do universo dizendo: “Bem, vamos verificar no Gênesis”. 

A ciência inviabiliza a crença em Deus? “Não, A ciência trabalha na construção empírica do Universo e a religião na busca de valores éticos e do significado da vida. O alcance da sabedoria requer atenção aos dois domínios.” (Stephen Jay Gould)

O livro lançado em 2006, discorre sobre sua peregrinação pessoal do ateísmo ao cristianismo e como estruturou em si suas convicções cientificas com sua fé em Deus, assim como a frase de Gould (Um dos maiores evolucionistas que já existiram) acima mostra. De primeira vista, seria uma obra que iria agradar religiosos, mas sua leitura pode não agradar os fundamentalistas(que tem da bíblia uma interpretação literal de Gênesis).

Atualmente o ateísmo ganhou espaço em obras de autores como Richard Dawkins, considerado um dos “quatro cavaleiros do apocalipse” ao lado Sam Harris -Este, após Collins ser nomeado diretor o NIH comentou: “Será que devemos confiar o futuro da pesquisa biomédica nos Estados Unidos ao homem que sinceramente acredita que a compreensão científica da natureza humana é algo impossível?” - Danniel Dennet e Christopher Hitchens, que juntos professam seu ateísmo.

O livro como muitos consideram, pode ser uma desintoxicação de Dawkins, pois este, alem de ser um evolucionista, defende também que a teoria da evolução biológica implica ateísmo. Em contraposição, Collins defende em seu livro como é capaz de aceitar a teoria da evolução e sua crença em Deus, chamada de evolucionismo teísta, o que ele chama no livro de BioLogos (Nome também de um instituição fundada por ele, com a mesma proposta do livro). 

BioLogos expressa a crença de que Deus é a fonte e toda vida,
e a vida expressa a vontade de Deus.” (p. 209)

Criacionistas alegam que o evolucionismo teísta de Collins é um meio de fuga de debate, mas não levam em conta que, além de argumentar contra as ideias materialistas dos evolucionistas como Dawkins, defende uma área contra os princípios criacionistas e de design inteligente (que é atribuído a elas o titulo de pseudociência), se for para fugir de debate, sua posição não é das mais adequadas.

O argumento de Paley
não pode ser considerado como a história completa” (p. 94) 

“[O termo “teoria” usado aqui não indica conjectura ou hipótese, mas] um princípio fundamental da ciência, como a teoria da gravidade, teoria musical e a teoria das equações” (p. 147)


A leitura é agradável e leve, mas logicamente, você deve ter um breve conhecimento dos assuntos abordados como Física(das partículas à Astrofísica) e Biologia(molecular ao evolucionismo), caso contrário achará a leitura como muitas resenhas mostram: muito técnico e cansativo.


Todas essas etapas na formação do nosso sistema solar são, atualmente, bem descritas e improváveis de ser revisadas com base em informações futuras. Quase todos os átomos de seu corpo foram, algum dia, cozidos na fornalha nuclear de uma supernova antiga – você foi, de verdade, criado com a poeira das estrelas” (p. 76)

Por que existiu essa assimetria? Teria sido mais ‘natural’ que ali não houvesse assimetria. Contudo, se houvesse uma simetria total entre matéria e antimatéria, o universo rapidamente teria se desenvolvido em radiação pura; e pessoas, planetas, estrelas e galáxias jamais teriam existido” (p. 79). 


Indico a leitura de “Criação Imperfeita” do Marcelo Gleiser e “Ciência e Fé: O Reencontro Pela Física Quântica” de Robson Rodovalho

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