segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

TEORIA DA EVOLUÇÃO É RACISTA?

Pasmem, a teoria da evolução é racista! É o que criacionistas e “inteligentistas” afirmam. Por muitas das vezes por conceitos errados como “sobrevivência do mais forte”. Porém, “as espécies que sobrevivem não são as espécies mais fortes, nem as mais inteligentes, e sim aquelas que se adaptam melhor às mudanças”.

“Um amplo debate entre os primeiros teóricos racistas, no entanto, dizia respeito à origem da humanidade. De um lado, estava o monogenismo, uma visão que agregava grande número de pensadores na Europa, até meados do século XIX, segundo a qual, conforme as escrituras bíblicas, acreditava-se que a humanidade era una. Os monogenistas baseavam-se na crença de um pai universal, no caso Adão, que teria sido a gênese de todos os homens. Deste modo, o homem teria se originado de uma fonte comum, sendo os diferentes tipos de homem apenas um produto “da maior degeneração ou perfeição do Éden”. Nesse sentido, a humanidade iria do mais perfeito (mais próximo do Éden) ao menos perfeito (mediante a degeneração)[1].


Essa diferenciação da humanidade dentro do monogenismo encontrava legitimação no mito dos irmãos Jafé, Sem e Cam.


“A fantasia dos autores tinha livre curso, e a variação propostas eram inumeráveis, mas a tendência dominante, de acordo aliás com as sugestões etimológicas já contidas na Bíblia, era a de reservar a Europa aos filhos de Jafé, a Ásia aos de Sem e a África aos de Cam.” [2]


De acordo com a Bíblia, estes últimos constituíam o objeto de uma misteriosa maldição, sendo condenados a servir de escravos aos demais[3]. Assim, os “camitas” ou negros eram classificados abaixo da escala hierárquica humana[4]


A publicação de “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin (1809-1882), em 1859, fez com que um novo e importante paradigma ganhasse as discussões raciais: o evolucionismo. A partir daí, o conceito de raça ultrapassa os problemas estritamente biológicos, adentrando questões de cunho político e cultural. Surge, assim, o Darwinismo Social, bem como o uso de termos Darwinistas como “competição”, “seleção do mais forte”, “evolução” e “hereditariedade” em vários ramos do conhecimento como a psicologia, a linguística, a pedagogia, entre outros. Na política, o Darwinismo serviu para justificar o domínio ocidental sobre os demais povos.


Entretanto, ao contrário do que se pensa, as famosas fórmulas “the survival of the fittest” (sobrevivência do mais adaptado) e “struggle for existence” (luta pela sobrevivência) devem-se não a Darwin, mas a Herbet Spencer (1820-1903). O filósofo inglês acreditava ter demonstrado que a marcha dos homens para um futuro melhor se desenvolvia em virtude de uma lei universal. Esta marcha prosseguiria sob o comando da raça branca, permanecendo as outras muito atrás dela, num estádio primitivo ou infantil. “Assim, a relação entre a idéia do progresso e a da hierarquia racial, (...), tornava-se particularmente nítida neste autor típico da era vitoriana”[5].


O podcast "Cristianismo e Moral" do Bibotalk, mostra como o pietismo alemão deu a base para o cristianismo moralizar o mundo. A Europa do século XIX(época contemporânea a Darwin), ainda era cristã, e em suas viagens expansionistas, enviavam padres: "O objetivo principal das missões jesuíticas foi o de criar uma sociedade com os benefícios e qualidades da sociedade cristã europeia, mas isenta dos seus vícios e maldades." [6]


Sabemos que a maioria absoluta dos defensores do Design Inteligente são cristãos, logo afirmar que Darwin tinha ideias deste porte é dar um tiro no pé, pois suas bagagens moralísticas foram cristãs, Darwin seria tão influenciado pela igreja da época como qualquer outro... No site do Criacionismo há um artigo com o titulo "Dez fatos estranhos e interessantes sobre Charles Darwin" e diz que Darwin era religioso. Mesmo depois de ter sistematizado a teoria da evolução, Darwin disse enfaticamente: “eu nunca fui ateu”[7], porém ainda há controvérsias de se tornar ateu após a morte de sua filha, ainda há uma carta dizendo “Lamento ter de informá-lo que não acredito na Bíblia como revelação divina e, portanto, tampouco em Jesus Cristo como o filho de Deus. Atenciosamente. Charles Darwin.”


O Darwinismo Social, juntamente com a antropologia e a etnografia do século XIX ajudaram a construir a idéia de “missão civilizatória” das potências imperiais. Deste modo, o chamado neo-imperialismo das últimas décadas do século XIX trazia consigo a noção de que havia um “fardo do homem branco” de levar o progresso e a civilização aos povos “primitivos” e “atrasados”. Tanto que Europeus afirmavam com bases teológicas que os negros não tinham alma. O sacerdote Ginés de Sepúlveda, professor do rei espanhol Felipe 2º, defendia que os índios eram macacos espertos que se fingiam de humanos: epúlveda defendeu a aplicação aos índios da Teoria da Escravidão Natural. Segundo tal teoria, era justo declarar guerra contra aqueles que, por uma condição natural, deviam obediência a outros, que nasceram para comandar, mas que se recusavam a obedecer. Conforme esclarece Hoffner (1977), para os partidários da escravidão, os índios eram incapazes de levar uma vida racional e moralmente independente e pessoas com tais características eram destinadas pela própria natureza a servir aos homens mais sábios e prudentes, seus superiores naturais.De acordo com Rodrigo Gutierréz:Podería-se dizer que o que aconteceu em Valladolid foi a culminação de um processo intelectual mediante o qual pretendeu-se classificar os índios como bárbaros, carentes de razão e com um tipo inferior de humanidade. Tudo isto com a finalidade de aplicar-lhes a doutrina da barbárie, que muitos séculos antes tinha sido anunciada por Aristóteles, e que tinha como conclusão que os bárbaros eram naturalmente escravos. Então, só restava mostrar que os índios eram bárbaros. Com isso, pretendia-se justificar ideologicamente a escravidão dos índios. (GUTIERRÉZ, 1990, p. 09)[8]


Na pagina "Science vs evolution" afirmaram que: "Evolutionists are essencially racists"[Evolucionistas são essencialmente racistas]. Mas depois de todos esses fatos parece que é o contrário...


Ainda não sei porque criacionistas insistem em dizer que Darwin e sua teoria são racistas Qualquer teoria científica que for utilizada para fins ideológicos patrocinado por governos totalitarista resultara em total desastre. A teoria não é só de de Darwin! O conceito de que as espécies mudam com o tempo é tão óbvia que Wallace também chegou na mesma conclusão, tanto que o nome adequado seria Teoria da Evolução de Darwin-Wallace. Porém, se eles não conseguissem formula-la, algum tempo depois alguém teria.


O Darwinismo Social é PSEUDOCIÊNCIA, chega de jogar essa carga para a Teoria CIENTÍFICA da Evolução Biológica. Como os maiores propagadores dessa concepção errada são adeptos do Design Inteligente saiba que ela também tem suas implicações: um lunático iria começar a propagar que bebes com síndrome de down ou microcefalia não são fruto de design, ou utilizar o conceito da Entropia Genética (parecido com monogenismo) para mesmo fins de Hitler.


Como mostrei neste artigo, é interessante observar que a mesma teoria que foi utilizada para fins preconceituosos, pode ser utilizada ao contrario! Como o físico Marcelo Gleiser diz:

"Em seus livros "A Origem das Espécies" e "A Origem do Homem e a Seleção Natural", Darwin argumenta por uma origem comum da vida. Sendo assim, existe uma irmandade entre todos os homens, o que torna a escravidão um crime absurdo."

Fontes:
[1] SCHWARCZ, Lilia Moritz, Op. Cit. p. 48.
[2] POLIAKOV, Léon. Op. Cit, p. XXII.
[3] Nas palavras de DAVIS, David Brion. O problema da escravidão na cultura ocidental. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, pp. 82-83, a palavra hebraica para escravo, ebed, era usada, em certo sentido, para se referir a uma justa punição sancionada pelo Senhor. “Maldito seja Canaã”, gritou Noé. “Um servo de servos ele será para seus irmãos.” A expressão “um servo de servos”, sabemos, significa “o escravo mais indigno”, e os descendentes de Canaã foram assim condenados à servidão perpétua (Gênesis 9:35).
[4] POLIAKOV, Léon. Op. Cit, p. XXII.
[5] POLIAKOV, Léon. Op. Cit, p. 283.
[6] https://pt.wikipedia.org/wiki/Miss%C3%B5es_jesu%C3%ADticas_na_Am%C3%A9rica
[7] The Life and Letters of Charles Darwin (New York, D. Appleton and Co., 1905, 274.)
[8] https://jus.com.br/artigos/17394/a-controversia-de-valladolid-debate-acerca-da-guerra-justa-escravizacao-dos-indios-e-a-questao-do-nascimento-dos-direitos-humanos

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