segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Devaneios #4: A LÓGICA CLÁSSICA, QUÂNTICA E DIVINA E SIGNIFICADO DE MISTÉRIO


Muito pouco se entende sobre a natureza de um Deus, nossa consciência nos leva identificar a natureza através de nossa própria lógica. Porém, nossa lógica pode ser limitada para uma natureza transcendente, assim como ela é incompleta para explicar o mundo subatômico!

Uma pequena minoria de físicos e filósofos têm procurado desenvolver uma "logica quântica", pelo fato da logica clássica não funcionar no mundo subatômica: leis da física clássica de Newton à Einstein, fazem sentido no mundo macroscópio mas deixam de funcionar em nível atômico (Além do experimento da dupla fenda demonstrar que tudo pode ser matéria e energia ao mesmo tempo, existe uma partícula, partícula anjo, que é sua própria anti-partícula, um fenômeno chamado entrelaçamento quântico, quando dois objetos entram em ligação, harmonia: a posição de um, mesmo a distância, será a posição d'outro, e do experimento mental do gato de Schrödinger demonstrar que um sistema físico,como um elétron, existe parcialmente em todos os estados teoricamente possíveis simultaneamente antes de ser medido), não me seria surpreendente que nossa logica não correspondesse também à divina, em partes. 


Como escrevem Ítala Maria e Hércules de Araujo em seus artigo "Sobre a história da lógica clássica e o surgimento das lógicas não-clássicas":
Em um livro recente, Logiques Classiques e Non-Classiques: essai sur les fondements de la logique (da Costa 1997), da Costa discute as relações entre razão e lógica, bem como as conexões entre atividade racional, que é refletida pela lógica, e a experiência. Está interessado nas questões: 
  • Existe uma única razão? 
  • Existe uma única lógica? 
  • Estamos derrubando a lógica clássica? 
A todas essas questões, da Costa responde negativamente – justifica sua crença de que a razão se constitui através da História, seguindo principalmente a contingência originada pelo progresso científico. 
Nesse sentido, a natureza a priori da razão parece relativa. A razão se transforma em um elemento constitutivo da cultura de uma dada época tendo, portanto, conotações sociais e culturais, relativamente à sua própria história. 
A despeito da ambigüidade do termo, da Costa considera que a razão é dialética, evoluindo de acordo com o avanço da ciência, sendo suas categorias históricas.
A razão não pode ser codificada a priori, via um determinado sistema lógico fixo.
Concordamos plenamente com da Costa – não existe uma única lógica, “a” lógica!
Não estamos derrogando a lógica clássica Aristotélica, pelo contrário, temos muita clareza sobre a enorme gama de situações cuja análise dela depende explicitamente.
Porém, com o advento das lógicas não-clássicas, e com o novo paradigma que elas vislumbram para o próprio século XXI, sabemos que não existe “uma” lógica, mas uma lógica melhor e mais adequada para cada tipo de problema.
Finalizamos com palavras de da Costa, o fundador da lógica paraconsistente:
A lógica é hoje um dos ramos mais empolgantes do conhecimento... e uma das maiores revoluções culturais de nossa época foi a edificação das lógicas nãoclássicas, particularmente das lógicas heterodoxas, revolução semelhante à provocada no século XIX à descoberta das geometrias não-euclidianas”.
Ou ainda, parodiando Shakespeare: 
Há, entre o céu e a terra, mais lógicas do que sonha tua vã filosofia”!
E aqui entramos em outra -mas derivada da mesma- conversa: a concepção de "mistério".

Alister McGrath, em seu livro "o Deus de Dawkins" discorre:

Eis o que um teólogo quer dizer quando usa a palavra "mistério": "algo que é verdadeiro e possui sua própria racionalidade" - ainda que a mente humana ache impossível compreendê-lo completamente. 
[...] Não há como o conceito de "mistério" significar "uma irracionalidade", a não ser no sentido em que ele venha a ser contra-intuitivo. Ele pode estar além da atual capacidade de compreensão da racionalidade humanidade; o que não significa, conforme enfatizou Tomás de Aquino, que seja contrario à razão. 
[...] A mecânica quântica é um excelente exemplo de uma área da ciência onde a categoria de "mistério" parece totalmente apropriado. É algo que acreditamos ser verdade, e que traz em si profunda racionalidade - mas que, muitas vezes, parece impossível compreender.

Ainda utilizando a física como analogia, o filosofo da ciência, da universidade de Princeton, Bas van Frassen, também defende:
Os conceitos de trindade, alma, essência, universalidade, substância primeira e potencialidade, confundem você? Eles parecem sem importância ao lado da alteridade inimaginável do espaço-tempo fechado, horizontes de eventos, correlações EPR e modelos bootstrapP.
E também, o biólogo geneticista Richard Dawkins, que de maneira indireta, escreve em acréscimo à defesa deste pensamento:
A física moderna nos ensina que existem mais verdades do que os olhos podem ver; ou que pode ver a limitadíssima mente humana, desenvolvida para lidar com objeto com tamanho médio que se movem a uma velocidade média por distâncias médias na Africa. Diante destes mistérios profundos e sublimes, o intelectual de baixo nível, carregado de afetações pseudofilosóficas não parece merecedor de antenção adulta.


Leia mais:
-http://www.reasonablefaith.org/portuguese/qa-266
-ALISTER MCGRATH, O deus de Dawkins

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