segunda-feira, 9 de outubro de 2017

WILLIAM PALEY, PLAGIADOR?

Um dos modus operandi dos Criacionistas do Design Inteligente é a falaciosa ad hominem, o ataque pessoal à Charles Darwin: "Darwin não foi Cientista", "Darwin foi racista"... Usando sua própria metodologia, veremos a seguir que o papa deles, William Paley, não passou pelo requisito moral e não conseguiu se esquivar das mesmas críticas.

Conforme diz o biofísico e teólogo Alister McGrath em seu livro "Deus e Darwin", a grande inspiração de Paley, foi uma obra muito desconhecida, de um pastor e filósofo holandês: The Religious Philosopher de Bernard Nieuwentyt.

A FONTE DE PALEY: O FILÓSOFO RELIGIOSO DE BERNARD NIEUWENTYT(1718)
Começamos, assim, explorando um aspecto muitas vezes negligenciado da obra de Paley: a sua grande inspiração numa obra relativamente desconhecida de autoria de um pastor e filósofo holandês: The Religious Philosopher[O filósofo religioso] (1718), de Bernard Nieuwentyt. Nieuwentyt(1654-1718) permanece um autor relativamente obscuro, mesmo em sua terra natal, a Holanda, e é conhecido principalmente por suas conquistas matemáticas e por sua crítica a Espinoza. 
[...] 
Em 1848, fora publicada uma carta no Athenaeum, uma das diversas revistas literárias de Londres. Seu autor preferiu identificar-se pelo pseudônimo "Vêrax". Sua acusação era simples: a de que William Paley, o famoso autor da obra Teologia Natural, havia plagiado alguns de seus elementos mais importantes, sem fazer qualquer menção a uma obra que a precedera. Longe de oferecer uma contribuição original ao debate acerta da possibilidade de conhecermos a Deus na natureza ou por meio dela, Peley produzira um "mero comentário" de uma obra anterior de autoria do Dr. Bernard Nieuwentyt. Em seguida, Verax colocou os conteúdos de cada uma das obras no formato de uma tabela, permitindo ao leitor observar as similaridades dos argumentos e da forma de ambas. Verax declara  que Paley imitara a Nieuwentyt "até mesmo nos detalhes" e acima de tudo, ao utilizar a ilustração central e fundamental de um relógio. 
Será que Verx tinha razão? Nieuwentyt convida seus leitores a imaginar-se deparando-se com um relógio "no meio de um local arenoso, um deserto, ou num lugar totalmente isolado". Já Paley convida-os a imaginar-se encontrando um relógio "num campo". Outros pontos em comum podem ser notados, como abaixo.



Nieuwentyt:


Tantas engrenagens diferentes, precisamente adaptadas umas às outras por seus dentes... Essas engrenagens são feitas de latão, para que não enferrujem; a corda é de aço, não havendo metal mais adequado para este fim... Acima dos ponteiros fora inserido um vidro transparente, e caso qualquer outra coisa senão uma substância transparente fosse colocada em seu lugar, haveria o transtorno de abri-lo todas as vezes para vê-lo.


E Paley:


Uma série de engrenagens, cujos dentes se encaixam e tocam e tocam uns aos outros... As engrenagens são feitas de latão, de modo a não enferrujarem; a corda é de aço, sendo o mais elástico dos metais... Acima da abertura do relógio há um vidro, material que não é empregado em nenhuma outra parte da obra. Se houvesse qualquer outra coisa senão uma substância transparente, não se poderia ver as horas se não abríssemos sua caixa.

A correspondência que se seguiu  no Athenaeum deixava clara uma aceitação generalizada da dependência de Paley de uma obra anterior, entretanto se discordava em relação à sua importância. "J.S." observara uma segunda referência de Paley a Nieuwentyt, e defendera que o que Paley fizera era mais grave do que simplesmente ter omitido uma menção devida aseu predecessor holandês pelo emprego de seu argumento. Nesse ponto, o editor da revista interviu, indicando crer que a acusação de plágio contra Paley seria justificada pelas evidências. "B.E.N." concluíra a correspondência duma semana após isto, investigando as evidências de plágio e concluindo que Paley parecia ter uma visão deficitária de uma "moralidade literária". 
Essa não é a primeira vez em que Paley fora acusado de plágio. Em fevereiro de 1792, ele fora acusado de ter incluindo trechos de uma manual de soletração denominado An Introduction to the Study of Polite Literature sem fazer qualquer menção do mesmo em sua obra de 1790, The Young Christian Instructed in Reading [...]

"DEUS E DARWIN" 
Alister Mc Grath, Pág. 95-97.
       

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